Nunca me apresentei direito pra todos vocês. Muito bem, me
chamo Marco Moretti, tenho 24 anos. Escrevo do escritório de minha casa, o qual
me apossei, já que aqui mantenho meu computador, meus livros, cds,dvds e minhas
coleções. Tenho um barzinho oculto dentro da estante, muito bem abastecido
aliás.
Acho fácil escrever isso para vocês, mas não me peça para
fazer uma lista de livros que eu leio, pois são tantos, nunca mais os contei
(minha última conta, em 2008, apontava 177 livros, mas se passaram tantos anos
e COM CERTEZA esse número cresceu, e MUITO).
Vocês podem me detestar, e fico feliz com isso, significa que
ainda sobrou um pouco de dignidade e orgulho próprio por aí que os impede de
aceitar a ostentação com resignação (procure no dicionário o que significa isso
e verá um resumo da sua vida: resignação).
Às vezes me esqueço de como gosto de música italiana. Falei
isso porque escrevo estas linhas ouvindo Loredana Perasso (“Grande, grande,
grande”, se quiser procurar no youtube. Prefiro a versão da Mina, mas essa
música é tão boa...). No fim das contas, gosto de ficar em casa aproveitando
minhas coisas. Sou tão solitário nessa minha opção sibarita de viver sem me
prender a ninguém que acabo criando companhia em objetos que eu mesmo compro
por aí. É inexplicável o amor que eu sinto pelo meu aparelho de som, mas tenho
poucas oportunidades de ouvi-lo tocar melodias que vocês não conhecem, talvez
os pais de vocês devam conhecer, o que não exclui, por exemplo, o cd novo do
Snow Patrol de tocar por aqui. Chamo isso de passar o tempo com a pessoa que
mais amo no mundo: EU.
Fui fazer compras neste feriado. Trenchcoat, suéter de gola
fisherman, luvas, lenços e tudo mais. Mas fiz uma boa ação, doei minhas roupas
antigas. Incrível como tinha roupas guardadas há tanto tempo. Doei uma camisa
que ainda tinha a etiqueta de compra. Tropecei nela enquanto passava com uma
pilha de blazers, fiquei tão puto que não queria nunca mais ver essa camisa na
minha frente. Agora, algum carinha aí deve estar feliz da vida com uma camisa
novinha. Ódio produtivo, faça alguém feliz com ele. BABAQUICE.
[Nossa, nesse cd de música italiana tem “La Bambola” da
Patty Pravo, ganhei meu dia.]
Hoje não quero comentar as baladas que tenho ido. Li num desses
guias os comentários das baladas que frequento. TODAS diziam algo assim: “procurada
por um público acima dos 30 anos”. Fiquei tão feliz, odeio, ODEIO ir em baladas
e encontrar o elenco do Glee. Hoje queria apenas dizer que sou real, que tudo
isso que escrevo eu realmente vivi e vi. Eu poderia vir aqui e escrever sobre
como tive um caso com Ornella Vanoni (ah Ornella!) mas seria mentira. O que é
real pra mim sempre foi mais fantástico, mais impossível. Por isso sinto-me tão
velho e cansado, acho que já até falei disso com vocês. Antes de fazer compras,
tomei 1 comprimido e uma dose de Jack Daniels, pois me sentia tão sem paciência
pra fazer compras (sim, até pra isso) que precisei me dopar um pouco. No táxi
vi São Paulo toda cinzenta, chuvosa e deprimida que fiquei pensando em como
desperdiçamos nossa vida miserável andando pra lá e pra cá seguindo horários e
ordens. Somos escravos de um trânsito caótico e prisioneiros de uma violência
que ninguém parece perceber. Meu segurança só existe por causa dela.
Problemas geram soluções. Não para você, mas para quem vive
deles.
Eu queria mudar de vida. Parar de fumar, de beber, de me
entupir de calmantes e dormir dias inteiros, de ficar rodando por aí com homens
e mulheres de no mínimo 10 anos mais velhos. Se eu pudesse ser alguém eu seria
assim: Caipira, bonito e burro.
Caipira: um mundo reduzido, funcionando em sua
particularidade. Eu precisaria me preocupar apenas em ir às missas nos
domingos, estar penteado para as festas que raramente acontecem, ver a minha
plantação crescer e trabalhar a terra para meu próprio sustento. Controlaria
meu tempo, seria senhor de mim e de meu pequeno espaço. Não sonharia com
poltronas de couro e lareiras em mármore, afinal de que isso me serviria? Veria
o sol se por da minha janela, fumaria cumprimentando a lua. Seria feliz nessa
mediocridade.
Bonito: Não se precisa de mais nada quando se é bonito
naturalmente. Apenas sorria, as pessoas serão amigáveis com você. As mulheres
vão querer dar pra você. Os homens vão fantasiar que são iguais a você e mais,
vão sonhar estar dando para você.
Burro: Como almejar o impossível se você não tem capacidade
de imaginar nada além do mundo em que você vive?
Mas não: Sou cosmopolita, urbano, instruído e produzido. Isso
é, nunca estar satisfeito sempre querer coisas que não são possíveis, sempre
sentir uma melancolia depois de conseguir. É cercar-se de coisas tolas, impor
uma lógica à natureza e viver escravo dela.
Rousseau tinha toda a razão.